Leitura

Burnout pode levar aos quadros de depressão e ansiedade

Neurologista dá dicas para quem está em trabalho em modelo home office

Desde janeiro de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a síndrome de Burnout como uma doença relacionada ao trabalho¹. Esse esgotamento ocorre, principalmente, por conta do excesso de horas trabalhadas e pelo estresse provocado pelas condições das tarefas.

O número de pacientes acometidos por essa condição pode ser ainda maior nos próximos anos, como consequência das adaptações feitas pelas empresas devido ao isolamento social e à pandemia².

Com o aumento do número de trabalhadores que optaram pelo home office³, existe um sério risco ligado à falta de autocontrole para que o expediente saia da rotina e vire um caso de Burnout que, quando não tratado a tempo, pode até mesmo evoluir para quadros graves de ansiedade e depressão.

De acordo com Elizabeth Bilevicius, neurologista e diretora médica da Viatris, nova empresa global de saúde com o propósito de empoderar as pessoas ao redor do mundo para viverem com mais saúde em todas as fases da vida, o cérebro humano se dedica a apenas uma atividade de cada vez, deixando o restante das funções no automático. Com isso, o trabalho remoto gerou uma angústia pelo fato de as pessoas acharem que não fazem nada corretamente.

"Em um ambiente de trabalho presencial, você foca entre 40 e 50 minutos nos afazeres e depois para, toma um café, vai ao banheiro, socializa com alguém e assim por diante. No home office, você trabalha e não tem referência dos colegas ao lado para entender se está trabalhando muito ou pouco, o que acaba gerando a ansiedade pela culpa. Fora a exposição às telas que podem dar dor de cabeça e forçar a vista", destaca Elizabeth Bilevicius.

Outro ponto crucial é que muitas pessoas não conseguiram separar o ambiente de trabalho do doméstico, o que causou uma sobrecarga de tarefas, característica do Burnout.

Segundo a neurologista, esses fatores, em conjunto com outros como a predisposição genética, por exemplo, propiciam maior risco para o aparecimento de transtornos de humor como depressão e ansiedade. Por isso, ela salienta que algumas medidas são necessárias para que o esgotamento não fique ainda maior para quem trabalha em casa.

"O mais importante é respeitar o ritmo de cada pessoa. Tem gente que nunca vai se adaptar ao ambiente remoto e precisa voltar ao presencial, e vice-versa. O que vale, em ambos os casos, é não ficar 100% conectado. Tire uma pausa para tomar água, chá, por exemplo. Tenha um local na sua casa destinado para o home office, pois isso facilita seu cérebro a entrar no modo trabalho quando preciso", orienta.

Elizabeth recomenda ainda não levar o computador ou celular para os outros cantos da casa, pois ajuda o cérebro a focar mais se o equipamento estiver sempre no mesmo lugar. Por fim, é fundamental também padronizar as atividades que oxigenem o cérebro na rotina. "Sempre que se deparar com uma situação de monotonia, tente mudar o estímulo", sugere Elizabeth.

Nos intervalos, o hábito da leitura também pode ser um importante aliado. Estudos avaliam que existe uma probabilidade significativamente menor de desenvolver Burnout quem lê livros com frequência, mostrando um efeito protetor da literatura sobre a despersonalização4.

Outra dica da diretora médica da Viatris é estabelecer horários de trabalho com regras, evitar bebidas cafeinadas, optar por uma alimentação equilibrada com fontes de frutas, vegetais e fibras e pobre em açúcar e sódio, fazer exercícios físicos regulares e manter uma boa higiene do sono.

Já Marta Axthelm, presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), acredita que um passo importante para o exercício do tratamento da saúde mental é reconhecer que algo não está bem, seja da própria pessoa ou das pessoas ao redor. "A aceitação da ideia de que algo não está bem e que por isso é necessário buscar alguma ajuda é o primeiro passo", afirma. Mas admite que nem sempre a pessoa consegue reconhecer essa situação e, neste caso, uma rede de apoio insistente se faz necessária.

 

Referências:

¹ Site da Organização Mundial da Saúde. International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems (ICD). https://www.who.int/standards/classifications/classification-of-diseases#:~:text=ICD-11%20Adoption-,The%20latest%20version%20of%20the%20ICD%2C%20ICD-11%2C%20was,1st%20January%202022.%20. Acesso em 29/08/2023

² Fabiana S. et al. The Imminent Fall of Home-Office Workers During COVID-19 Outbreak: Suggestions to Cope With Burnout. Frontiers In, 2022. ttps://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2022.647418/full Acesso em 29/08/2023

³ Site do IPEA. TD 2738 - O trabalho remoto potencial e efetivo no Brasil: possíveis razões de um hiato elevado entre estes? https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/11094/1/td_2738.pdf Acesso em 29/08/2023

4 Daniel M. et al. The impact of non-medical reading on clinician burnout: a national survey of palliative care providers. Annals of Palliative Medicine, 2019.  https://apm.amegroups.com/article/view/26974/25669 Acesso em 29/08/2023

 

NON-2023-8011 - Agosto/2023