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Melhora incompleta: e agora, o que fazer com a depressão?

Superar um episódio de depressão é um processo. E, muitas vezes, mesmo após o início do tratamento, alguns sintomas podem persistir. São os chamados sintomas residuais da depressão, são eles: cansaço constante, apatia leve, alterações no sono ou na alimentação, falta de motivação ou dificuldade de concentração. Esses sintomas residuais costumam interferir na qualidade de vida do paciente e merecem atenção pois aumentam as chances de recaídas.1

Durante o tratamento, é comum que o paciente acredite que já está "quase bem" e, por isso, pense em interromper a medicação ou as sessões de terapia. No entanto, é justamente nessa fase que seguir as orientações do profissional de saúde mental faz toda a diferença para garantir uma recuperação sólida e evitar recaídas.2

Neste artigo, vamos falar sobre como enfrentar essa etapa da melhor forma, com hábitos saudáveis, foco no bem-estar emocional e uma rotina de autocuidado que fortalece corpo e mente. Tudo de maneira prática, leve e acessível.

 

O que são sintomas residuais da depressão?

Os sintomas residuais são aqueles que permanecem mesmo após a melhora dos sinais mais intensos da depressão. Eles podem parecer pequenos, mas têm um papel importante na manutenção do quadro clínico.3 Alguns exemplos incluem:1

 

Esses sintomas não significam que o tratamento não está funcionando. Pelo contrário: eles mostram que você está no caminho da recuperação, mas ainda precisa de suporte.3

 

Por que continuar o tratamento é fundamental

Interromper o tratamento por conta própria, mesmo quando os sintomas parecem ter diminuído, é um dos principais fatores de recaída.4  A medicação prescrita precisa de tempo para estabilizar completamente o funcionamento dos neurotransmissores. Já a terapia trabalha com a reestruturação de padrões de pensamento, o que também exige constância.2

 

 

Dicas práticas para lidar com os sintomas residuais da depressão

Além do acompanhamento profissional, algumas estratégias no dia a dia ajudam a cultivar uma rotina para saúde mental mais estável e equilibrada. São atitudes simples que, com o tempo, criam um terreno fértil para o bem-estar emocional florescer.5

1. Crie uma rotina de autocuidado

Quando estamos lidando com os sintomas residuais da depressão, pode ser desafiador encontrar energia ou motivação para fazer qualquer coisa - até mesmo aquilo que sabemos que nos faz bem. Mas é justamente nesses momentos que o autocuidado se torna ainda mais essencial. Ter uma rotina de autocuidado, com ações simples e intencionais, ajuda a dar estrutura aos dias e sinaliza ao cérebro que ainda existe espaço para prazer, alívio e recuperação.6

Autocuidado não precisa (nem deve) ser complicado. Pelo contrário, ele deve se adaptar ao que você está conseguindo fazer hoje - mesmo que seja pouco. Criar pequenos rituais ao longo do dia pode ajudar o corpo e a mente a se sentirem mais seguros e acolhidos. Um banho quente e demorado, um chá antes de dormir, alguns minutos de silêncio com os olhos fechados, ouvir aquela playlist que te acalma ou até organizar um cantinho da casa podem ser formas de reconexão com você mesmo.6

O mais importante é que esses momentos sejam seus. Sem culpa. Sem exigência. Apenas presença. Mesmo que sejam 5 ou 10 minutos por dia, isso já conta - e muito.6

Sugestões de apoio para sua rotina de autocuidado: 

  • Podcast:

"Meditação Guiada" - Regina Restelli (ótimo para pausas curtas no dia)

"Autoconsciente" - Regina Gianetti (reflexões sobre emoções e equilíbrio)

"Mamilos" - episódios sobre saúde mental e vulnerabilidade

 

  • Livros:

"O Demônio do Meio-Dia" - Andrew Solomon (para compreender a depressão com profundidade)

"O Corpo Fala" - Pierre Weil (sobre como nosso corpo manifesta emoções)

"A Coragem de Ser Imperfeito" - Brené Brown (autocompaixão e vulnerabilidade como força)

 

  • Apps e recursos digitais:

Lojong (app brasileiro de meditação e atenção plena)

Headspace (ótimo para criar uma rotina de pausas e meditação)

Fabulous (para desenvolver hábitos positivos com leveza)

 

2. Meditação e respiração consciente

A prática da meditação é cientificamente reconhecida por seus efeitos positivos na regulação do humor, da ansiedade e da atenção. E o melhor: é acessível e pode começar com apenas alguns minutos por dia.6

Dica de podcast: Meditação Guiada por Monja Coen - episódios curtos que ensinam respiração consciente e atenção plena.

3. Movimento: atividade física como aliada da saúde mental

Você não precisa virar atleta para cuidar da sua saúde mental, mas movimentar o corpo faz toda a diferença. Práticas simples no dia a dia ajudam a manter o equilíbrio emocional e a lidar melhor com sintomas residuais da depressão.6

Comece aos poucos:

  • Caminhe por alguns minutos, mesmo que seja só até a padaria ou pela rua de casa.
  • Suba escadas em vez de usar o elevador.
  • Brinque com seu animal de estimação.
  • Faça um passeio ao ar livre, sozinho ou acompanhado.
  • Experimente uma aula de dança, natação, pilates ou qualquer outra atividade que desperte seu interesse.

 

A regularidade é mais importante do que a intensidade. Pequenos movimentos ao longo do dia já contribuem para seu bem-estar.6

Dica prática: Escolha uma atividade que te dê prazer e inclua esse momento na sua rotina. Pode ser três vezes por semana ou diariamente, por 15 a 30 minutos. O importante é começar e manter o hábito.6

Dica de vídeo:

Canal no YouTube: Yoga com a Pri Leite - sessões curtas, acolhedoras e para todos os níveis.

 

4. Estabeleça pausas no trabalho

Criar espaços para pausas durante a jornada de trabalho é uma forma simples e eficaz de cuidar da saúde mental. Essa prática faz parte da reorganização dos ambientes que influenciam nosso bem-estar. Ao valorizar o descanso, contribuímos para ambientes profissionais mais saudáveis, com menos sobrecarga e mais acolhimento.7

Essas pausas ajudam a reduzir riscos, fortalecem a resiliência emocional e promovem atitudes mais positivas no local de trabalho. Além disso, fazem parte de uma cultura que reconhece a importância da saúde mental, combate o estigma e cria condições mais justas e humanas para todos.7

 

5. Alimente-se com consciência

A alimentação também influencia diretamente no funcionamento do cérebro. Não estamos falando de dietas restritivas, mas de equilíbrio e atenção aos sinais do corpo. Evite exageros em açúcar, álcool e alimentos ultraprocessados.8

 

O papel da paciência e da compaixão

Em alguns casos, a depressão pode se tornar uma condição crônica, que não desaparece completamente mesmo após múltiplas tentativas de tratamento. Nesses cenários, adotar uma postura mais realista, voltada para a redução dos sintomas e a melhora da qualidade de vida, pode ser mais benéfico do que insistir em abordagens intensivas que nem sempre trazem resultados duradouros.3

Essa forma de conduzir o tratamento busca evitar o desgaste emocional causado por sucessivas tentativas frustradas, além de reduzir os custos e os efeitos colaterais de múltiplas medicações. Mais do que buscar uma cura completa, o foco passa a ser o gerenciamento do transtorno de forma contínua e cuidadosa.3

Por isso, é fundamental cultivar a paciência e a compaixão consigo mesmo. A melhora pode ser gradual e, muitas vezes, não linear. Respeitar esse processo, sem se comparar ou se cobrar excessivamente, é parte essencial do cuidado. O bem-estar emocional pode ser construído mesmo com a presença de sintomas, desde que haja acolhimento, consistência e atenção ao que realmente importa: viver com mais leveza, dentro do possível, um dia de cada vez.6

Lembre-se: você não está sozinho e cada pequeno passo conta

Lidar com os sintomas residuais da depressão é parte do processo de cura. Seguir as orientações do profissional, manter uma rotina para saúde mental, investir em autocuidado e adotar práticas que fortaleçam o corpo e a mente são atitudes fundamentais para recuperar o equilíbrio emocional com mais segurança e autonomia.3,6

 

Referências:

  1. ZAJECKA, John; KORNSTEIN, Susan G.; BLIER, Pierre. Residual Symptoms in Major Depressive Disorder: Prevalence, Effects, and Management. The Journal of Clinical Psychiatry, Academic Highlights, 15 abr. 2013. Disponível em: https://www.psychiatrist.com/jcp/residual-symptoms-major-depressive-disorder-prevalence/. Acesso em: 9 abr. 2025.
  2. SHELTON, Richard C. Steps Following Attainment of Remission: Discontinuation of Antidepressant Therapy. Prim Care Companion J Clin Psychiatry, v. 3, n. 4, p. 168-174, 2001. DOI: 10.4088/pcc.v03n0404. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC181183/. Acesso em: 9 abr. 2025.
  3. ISRAEL, Joshua A. The Impact of Residual Symptoms in Major Depression. Pharmaceuticals (Basel), v. 3, n. 8, p. 2426-2440, 3 ago. 2010. DOI: 10.3390/ph3082426. Disponível em: [https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4033933/] (https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4033933/) . Acesso em: 9 abr. 2024.
  4. RÁDIO USP. Entenda mais sobre a síndrome de abstinência por antidepressivos. 29 jul. 2019. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/entenda-mais-sobre-a-sindrome-de-abstinencia-por-antidepressivos. Acesso em: 9 abr. 2025.
  5. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Depressão. [S. l.], [2022]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/depressao. Acesso em: 9 abr. 2025.
  6. Instituto Federal - Espírito Santo. AUTOCUIDADO E QUALIDADE DE VIDA. Disponível em: https://prodi.ifes.edu.br/images/stories/Autocuidado_e_Qualidade_de_Vida.pdf. Acesso em 9 abr. 2025.
  7. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE - OPAS. OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção. [S. l.], 17 jun. 2022. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-transformar-saude-mental-e-atencao. Acesso em 9 abr. 2025.
  8. Gibson-Smith D, Bot M, Brouwer IA, Visser M, Giltay EJ, Penninx BWJH. Association of food groups with depression and anxiety disorders. Eur J Nutr. 2020 Mar;59(2):767-778. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30945032/. Acesso em 9 abr. 2025.

 

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BR-NON-2025-00168 - Junho/2025