Testes clínicos e pesquisas: quais são os avanços nos estudos da cura do glaucoma?

O glaucoma atinge de 2 a 3% dos brasileiros acima dos 40 anos e é a principal causa de cegueira evitável no mundo.¹ A boa notícia é que a grande incidência de casos instigou muitos testes e avanços nos estudos para o tratamento do glaucoma.

A doença afeta o nervo ótico, o que provoca o aumento da pressão intraocular. A condição tende a não apresentar sintomas, sua evolução ocasiona a perda gradativa do campo visual e, em alguns casos, até a cegueira. ²

Infelizmente, ainda não há cura conhecida para o glaucoma. Porém, um oftalmologista poderá apresentar a viabilidade do tratamento mais adequado para o seu caso.

Avanços nos estudos da cura do glaucoma

A detecção precoce da doença ainda é a melhor alternativa para prevenir a perda permanente da visão. No entanto, aos poucos, os estudos também estão avaliando a possibilidade da cura. Uma das áreas de pesquisa mais promissoras é o uso de terapias genéticas para tratar a doença.

Um grupo de pesquisadores do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) conseguiu avanços nos protocolos para o tratamento da doença.

Publicada na Revista Development, a pesquisa observou os mecanismos celulares e moleculares do desenvolvimento do sistema nervoso. A análise foi feita em células que formam o nervo óptico e identificou sua capacidade de regeneração de células específicas da retina.³

Isso pode ser um bom sinal porque a degeneração das células no glaucoma é justamente o que leva à perda da visão. O experimento foi realizado em ratos recém-nascidos e identificou a ativação de um programa molecular semelhante ao que é responsável pela geração das células ganglionares durante o desenvolvimento embrionário da retina.³

Um outro estudo tem demonstrado um grande potencial de recuperação do nervo óptico em doenças degenerativas. A equipe de cientistas do Mass Eye and Ear e do Brigham and Women´s Hospital, nos EUA, baseou-se em uma publicação de 2017 da revista Immunity, que indica que doenças degenerativas, compartilham a variante APOE4, do gene Apolipoproteína E, que reduz o risco do desenvolvimento de glaucoma. ⁴

No estudo, foi observado que animais geneticamente modificados para exibir a variante APOE4, com pressão ocular elevada, não sofreram danos nas células ganglionares da retina. ⁴

Além disso, existem estudos em andamento que avaliam o transplante de células-tronco no tratamento do glaucoma. A ideia é que as células-tronco possam ser usadas para reparar o dano ao nervo óptico e restaurar a visão. Essa é uma área de pesquisa experimental e ainda não está disponível para os pacientes. ⁵

Tratamentos para o Glaucoma

Atualmente, existem três tipos de tratamento para o glaucoma, incluindo, medicamentos, cirurgias e terapias a laser. ²

Medicação

O controle da pressão intraocular é feito inicialmente com medicamentos. No entanto, alguns colírios são contraindicados na presença de doenças sistêmicas e dos olhos. ⁶

Quando estiver em consulta com o oftalmologista especializado, informe a ele sobre possíveis doenças pré-existentes como asma, arritmia, bradicardia (batimentos lentos do coração), diabetes, hipertensão, doenças da tireoide, angina, artrite, depressão etc. Ele escolherá a melhor estratégia de tratamento para cada caso. ⁶

Aplicações de Laser

O tratamento a laser geralmente é indicado para pacientes de glaucoma ângulo fechado. O procedimento é rápido e apresenta resultados positivos para reduzir a pressão intraocular.

Atualmente, existem três técnicas:

• Iridotomia periférica a laser: É feita uma abertura na íris com uma máquina de laser, permitindo o fluxo do líquido através de um percurso alternativo, evitando o bloqueio pupilar. ⁷
• Trabeculoplastia a laser: A técnica utiliza o laser para aumentar o fluxo de humor aquoso, o que consequentemente reduz a pressão intraocular. ⁹
• Ciclocriofotocoagulação: reduz a produção de líquido intraocular e trata o epitélio do corpo ciliar. Geralmente, é aplicada em pacientes com glaucoma em estágio terminal ou em olhos cegos dolorosos. No entanto, envolve muitos riscos, como a possibilidade de baixa pressão intraocular e atrofia do globo ocular. ?

Cirurgia

A cirurgia é, geralmente, recomendada para pacientes cujo tratamento para glaucoma com medicamentos e outros procedimentos não foram suficientes para controlar a pressão intraocular.

Como em qualquer procedimento, podem surgir complicações (leves e severas), é importante conversar com o seu médico sobre todas essas questões. Entre as técnicas utilizadas estão: ¹⁰

• Cirurgia de trabeculectomia: Para aliviar a pressão intraocular é criado um canal para drenar a pressão intraocular. Após a cirurgia, uma cicatriz branca fica visível quando a pálpebra é puxada e costuma ser chamada de "bolha". Geralmente, a cirurgia é feita com anestesia local e a operação costuma levar até uma hora. ¹¹
• Cirurgia de Implante de Drenagem: Pacientes que não tiveram resultados com a Trabeculectomia têm como alternativa o implante de tubos de drenagem no olho. ¹²
• Cirurgia de glaucoma minimamente invasiva: Conhecida também como cirurgias micro invasivas do glaucoma (MIGS), se propõem a reduzir as dificuldades técnicas e o risco potencial de complicações inerentes às cirurgias incisivas. Existem muitos estudos sobre o procedimento e eles são úteis para pacientes de glaucoma em diferentes níveis de severidade da doença. ¹³

O avanço da tecnologia e os testes clínicos têm contribuído para importantes transformações na ciência, uma delas é a busca pela cura do glaucoma. Há também um grande esforço de pesquisadores em aprimorar as técnicas de diagnóstico e tratamento da doença. Contribuindo, assim, com o diagnóstico precoce da doença e proteção do nervo óptico com tratamentos cada vez menos invasivos e com excelentes resultados.