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Como frear o aumento nos casos de suicídio entre adolescentes?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos¹. O número expressivo se deve a fatores como o colapso na capacidade de lidar com estresses da vida, problemas financeiros, rompimentos de relações, entre outros.

E com a pandemia de Covid-19, muitos adolescentes passaram a lidar com transtornos de humor devido ao isolamento social e à adaptação da rotina escolar feita em casa. De acordo com a neurologista e diretora médica da Viatris, nova empresa global de saúde com o propósito de empoderar as pessoas ao redor do mundo para viverem com mais saúde em todas as fases da vida, Elizabeth Bilevicius, o número de casos de jovens com ansiedade e depressão foi consideravelmente maior.

"É nessa fase da vida que aperfeiçoamos nossa identidade de grupo e a socialização é experimentada de forma intensa. O fato destes adolescentes terem sido obrigados a ficarem confinados em casa acabou levando a prejuízos nesta etapa final de maturação do cérebro; por isso, estamos vivenciando um boom de distúrbios de comportamento tão precoce. Isso nunca tinha acontecido antes e não sabemos o impacto no futuro ainda", alerta.

Outro fator que pode estar contribuindo para o aumento de casos de transtorno de humor entre adolescentes é a positividade tóxica. Pelas redes sociais, o excesso de fotos e vídeos em um mundo onde tudo parece perfeito pode trazer comparações para o âmbito social da juventude.

"Por mais que saibamos que o mundo das redes sociais não costuma ser a realidade, ele acaba sendo o primeiro impacto que contribui de forma negativa para a saúde mental dos mais jovens. Isso acontece porque o ser humano é um ser comparativo socialmente por natureza", explica Elizabeth.

Como forma de reverter esse quadro atual de aumento no número de suicídios e de casos de ansiedade e depressão em adolescentes, é importante fortalecer os fatores de proteção por meio de iniciativas de prevenção integradas e baseadas na população². Ou seja, oferecer ajuda de forma  presencial e on-line, por meio da família, da escola, dos amigos e de programas de inclusão. Marta Axthelm, presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), acredita que a rede de apoio seja essencial para uma recuperação mais rápida. "A partir do momento que você consegue dar os primeiros passos, sinalizar um caminho de que a melhora está vindo, você consegue superar a doença ou a crise de forma mais rápida", alega.

Também é recomendado desestimular a conexão excessiva das redes sociais e dos meios digitais para socializar com outras pessoas presencialmente, além de incentivar tanto os adolescentes quanto os adultos a fazerem atividades físicas e a equilibrarem a alimentação diária.

Em relação à positividade tóxica, Elizabeth afirma que o mais importante é mostrar que a vida não é feita apenas de sucessos, mas também de fracassos. "Quando começamos a andar ainda bebês, caímos mais do que ficamos de pé. O mesmo vale para a fala, para a interação social; tudo é tentativa e erro. Por isso, a positividade tóxica inibe da gente o caráter de aprendizagem", destaca.

A neurologista diz ainda que deveria se falar de forma aberta nas redes sociais sobre os erros, que está tudo bem em falhar e rir sobre isso. "Os vínculos sociais nos tornam humanos e eles surgem pela identificação das pessoas. Quanto mais humano você se mostra, maior a socialização e menor o risco de se envolver com problemas emocionais, psicológicos e com transtornos de humor desde a adolescência", conclui.

 

Referências:

¹Site da Organização Mundial de Saúde (OMS), 2001.  https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/suicide. Acesso em 29/08/2023

²Johan B. et al. Suicide and Youth: Risk Factors. Frontiers In, 2018. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyt.2018.00540/full Acesso em 29/08/2023

NON-2023-8011 - Agosto/2023